Não é de hoje que a inflação assombra os brasileiros. Na década de 80, as pessoas tinham que estocar grandes quantidades de alimento para garantir preços melhores, uma vez que o preço poderia até dobrar seu valor no mês seguinte. Mas esse cenário ficou para trás com o excelente plano real de FHC (Fernando Henrique Cardoso) assim como todo o controle da taxa do dólar. Não é estranho ver seus pais dizendo que vão fazer a “despesa”, que não é nada mais do que comprar todo o mantimento do mês de uma vez. Todavia, até alguns meses atrás ainda era natural comprar somente o que fosse ser consumido, criando diversas idas ao supermercado durante o mês.
Em 2017, fizemos uma projeção de que a taxa SELIC iria reduzir, fazendo a migração da renda fixa para a renda variável, e como num passe de mágica, todo mundo começou a falar de ações e mercado futuros. Muito bem, mas quem acompanha meus stories no instagram sabe que, logo depois da pandemia, um cenário de inflação e aumento da taxa SELIC voltou. Eu explico em 3 etapas como cheguei nesse raciocínio:
- Descolamento do IGP-M do IPCA
Para aqueles que não sabem, o governo mede a inflação através do índice IPCA. É muito fácil achar esta informação. Vá no seu navegador e digite www.ipeadata.gov.br . No site procure as séries mais usadas.

Lá você encontra diversos indicadores, entre ele o PIB, IPCA, IGP-M e etc…

Clicando em IPCA taxa de variação em % a.m (ao mês) você terá acesso a planilha com todas as informações de um período de 1980 até o mês atual:

Utilizando esta informação cruzamos a informação do IPCA (que é do governo) com o IGP-M (que é feito pela FGV – Fundação Getúlio Vargas) e esse é o resultado:

Depois de abril de 2020 o IGP-M descola de maneira muito volátil do IPCA, demonstrando que o preço na prateleira havia subido mesmo os índices do governo se mantendo dentro do padrão. Perceba que houve meses que o IGP-M registrou quase 4% no mês, enquanto o IPCA apenas 0,5% ?????
- Impressão de moeda
No site www.bcb.gov.br é possível verificar a impressão de moeda papel pelo Banco Central:

Clique em dinheiro em circulação:

Iniciemos a pesquisa em 01 de janeiro de 2020 :


Verifique que o total de cédulas em circulação no Brasil era de 273.638.771.309 em 01 de janeiro de 2020. Ao fazer a mesma pesquisa para todos os meses temos o seguinte gráfico:

Opa, conseguem visualizar algo importante? A lei básica da economia diz que quanto mais dinheiro em circulação mais inflação.
- Aumento da Taxa SELIC
Lembram que no começo desse artigo eu havia mencionado que a taxa SELIC havia sido reduzida? Lá atrás eu visualizava esse cenário porque o governo queria “forçar” o rentista a investir em economia real, ou seja, o investidor tira o dinheiro que rende 2% ao ano e vai abrir negócio, tomar risco. Mas este tiro saiu pela culatra, o que dá material para um outro artigo. Vamos olhar a SELIC ao longo do tempo:

Até fevereiro de 2021, o COPOM (comitê que decide a taxa SELIC) segurou a SELIC em níveis baixos, mas houve o cruzamento da taxa de juros com a inflação, o que significa que, o custo do dinheiro ficou mais caro para o rentista de renda fixa, neste caso, se o investidor deixar o dinheiro em renda fixa, ele irá se desvalorizar ao longo do tempo. A sensação é a de que o investidor está ganhando, mas quando vai consumir, o valor já não é mais o mesmo.

Pronto, em três etapas é possível identificar o cenário de inflação. O que foi feito para contornar isso? O COPOM tem aumentado significativamente a taxa SELIC. Este procedimento tende a controlar a inflação, já é um procedimento comum e que realmente funciona. Examinemos o gráfico após o aumento da taxa SELIC.

Neste caso, temos uma taxa anual de 7,75% ao ano e uma inflação acumulada em 2021 de 7,95%.
O que esperamos afinal?
No fim de tudo, vai ter muita gente correndo para a renda fixa novamente e espera-se um maior controle da inflação de maneira real, ou seja, na prateleira do supermercado. A pandemia causou muito estrago na economia e agora vale a reflexão de porque a bolsa está tão baixa. Mas isto vamos deixar para outra vez. Espero que este artigo possa ter adicionado conhecimento! Forte abraço.

Eduardo Oliveira é gestor de riscos da Tiberius, doutorando em finanças pelo Mackenzie e entusiasta de educação financeira.